Cachoeira da Escada, 
águas que caem sobre o mar

Quando falamos de natureza, incluímos conceitos diversos, dentre eles boa qualidade de vida, bom gosto, surpresas inesperadas... fascínios que embriagam a alma! Ubatuba parece ser uma síntese de tudo que há de mais belo em todo mundo. 
O bairro quilombola do Camburi é um bom exemplo de rara beleza, ele está localizado no Km 1 do município na divisa de Rio/São Paulo, Ubatuba/Paraty. Cerca de dois quilômetros da pista, uma estrada íngreme de barro batido e muita pedra requer atenção ao dirigir, principalmente se o carro for baixo. A área do Camburi é regida pela legislação do Parque Estadual da Serra do Mar. Para os moradores, isso gera certas dificuldades burocráticas com o progresso; não há luz elétrica e nem estrada, porém a beleza do local e sua gente rica em história fazem dele um verdadeiro paraíso, onde temos para visitar a Toca da Josefa, negra que deu toda a descendência quilombola; a cachoeira da Divisa; a trilha que leva até Trindade, em Paraty/RJ; a pequenina praia do Grosna, os Sete Poços de Jambeiro, a praia de Camburi, a Cachoeira Alta e a Cachoeira da Escada, ambas com queda para o mar. A verdadeira Cachoeira da Escada fica a aproximadamente 15 minutos de barco a motor. Ela fica em Ubatuba sentido Rio de Janeiro. O passeio deve ser programado com antecedência com um guia local. Neste caso, Caio e Zé Roberto são os mais indicados, mas se deseja fazer o passeio de canoa qualquer outro morador poderá conduzi-lo. O ideal é solicitar a presença do senhor Genézio, negro de legítima descendência quilombola que trás em seus 74 anos uma sábia experiência da vida e inúmeras histórias locais. 
Para fazer o contato, você deverá ligar para o Projeto Tamar (12) 432-7014 e pedir para que eles entrem em contato com os indicados através de um rádio, único meio de comunicação no local, e só então terá um retorno seguro. Caso queira arriscar ir direto é sempre bom levar uns cinco a seis litros de gasolina para os motores do barco, pois eles podem não ter o combustível disponível. 
O passeio inicia-se na praia de Camburi. Logo, vamos visitar uma fazenda marinha, onde está a criação de mexilhões e os cercos (redes ao mar em forma de um cercado para pegar peixe), próxima a Ponta do Espia. Chama-se assim porque antigamente sempre ficava um morador em um ponto mais alto espiando. Quando o cardume se aproximava, ele tocava o búzio avisando toda a comunidade. Segundo Badeco, antes da rodovia, ali tinha uma grande quantidade de peixe. Uma vez, chegaram a pegar cerca de cinco mil tainhas, com os seus ossos fizeram rosários (terços) em agradecimento pelo presente divino. 
Logo, encontramos uma laje que mais parece esculturas colocadas artisticamente por mãos divinas: são pedras de formas e tamanhos diferentes em plena harmonia. O próximo trajeto é cruzar a Ponta das Andorinhas e depois o Reçoio, nome que eles chamam o mar quando forma um sutil rodamoinho. Então passamos pelo desapercebido Difirino, local que só pode ser visto da costa, pois forma um poço com as águas do mar entre as pedras onde os pescadores costumam pegar muito sargo e saramiguara (peixes da região). Em seguida, estamos passando pelo Costão Preto, um paredão de uns 20m de altura que traz uma rachadura onde o mar adentrou e abriga muitos peixes, mas o local é muito perigoso para amadores. Foi lá que o Sr. Genézio quase perdeu a vida: o mar o engoliu e depois o expulsou quase causando uma fatalidade. Mais adiante, observamos uma pedra que simula um navio afundado e mais uns minutos podemos observar uma verdadeira obra da natureza: uma cachoeira de 25m de altura cujas águas caem no mar! Devido a pouca chuva nestas últimas semanas, sua queda está pouca como observamos na foto. Em compensação, podemos entender porque tem o nome de Escada. Ela é estreita e formada por incontáveis degraus que mergulham mar adentro levando até o início da colina, um espetáculo único. No caminho, também podemos ser acompanhados por cardumes de peixes diversos como por exemplo carapaus, olhudos, corvinas, pirajicas e tartarugas. No verão, também há visitas de golfinhos que fazem questão de nos recepcionar. Ubatuba está sempre nos surpreendendo e chego a acreditar que seriam necessárias muitas vidas para conhecê-la por completo.