Trata-se
de um edifício interessantíssimo tanto do ponto de vista histórico, como
arquitetônico, de caráter apalaçado. É tradição que seu traço e cantaria
vieram trazidos do Portugal”. Mário de Andrade
Edificado em 1846, eis que surge o até hoje reconhecido Sobradão do
Porto, que nos permite reconstituir em nossas memórias dias
significativos de nossa história sócio-econômica. O português
proprietário e comerciante Manoel Balthasar da Cunha Fortes, casado com
a brasileira de Pindamonhangaba Benedita Marcondes Salgado, com quem
teve seis moças e um rapaz, construiu o Sobradão com toda pompa possível
da época. O prédio composto por dois andares superiores era de fato uma
arquitetura inovadora e imponente, onde até quatro graciosas estátuas
ilustravam as estações do ano. O primeiro pavimento servia como um
rústico armazém, onde se guardavam e negociavam toda a mercadoria de
sacas de café, algodão, fumo, cana-de-açúcar e aguardente que circulavam
na época, tanto produzida em Ubatuba como em toda região do Vale do
Paraíba. O corredor de importação e exportação era tão eficaz que os
grandes comerciantes tinham armazéns na prainha, hoje praia do
Matarazzo. O porto de Ubatuba chegou a gerar a maior renda per capita do
país.
O segundo andar foi utilizado como residência por sua numerosa família.
O que chama a atenção é a construção que fundiu a técnica européia com a
caiçara. A parte térrea foi edificada por tijolo e pedras aplicadas
transversalmente, provavelmente é o que mantém o Sobradão até hoje
intacto, pois garante a sustentabilidade de qualquer balanço, já que o
subsolo tem um grande lençol freático. Nos pisos superiores foi aplicada
a técnica caiçara de pau-a-pique, garantindo a leveza do edifício. Já a
decoração da parte residencial foi ilustrada por artistas franceses: em
alguns cômodos, os detalhes foram meticulosamente pincelados com ouro em
pó.
Os madeiramentos e granitos de peças inteiras que compõem as entradas
foram trazidos da Europa. Posteriormente, o Sobradão funcionou também
como alfândega.
Por volta de 1874, Balthasar faleceu e sua filha Benedita Fortes Costas
herdou o patrimônio e o manteve até sua morte, em 1926, quando seu filho
Oscar Batista da Costa, para manter o Sobradão, foi obrigado a alugá-lo
transformando-se no hotel Budapest. Em 1934, Oscar vendeu-o para Félix
Guisard, da CTI (Companhia Taubaté Industrial), utilizando-o
inicialmente como colônia de férias. Em 1959, o Sobradão foi tombado
pela SPHAAN (Secretaria do Patrimônio Histórico, Arqueológico e
Arquitetônico Nacional). Durante algum tempo, também foi sede de casa de
artesanato. Em 1981, foi desapropriado pela prefeitura municipal,
ficando sem grandes utilidades. Em 1987, foi criada a Fundação de Arte e
Cultura de Ubatuba (Fundart), que utiliza este importante prédio
histórico como sua sede até os dias de hoje.
Dizem algumas pessoas mais sensíveis ligadas a crença espírita em visita
ao Sobradão para admirar sua arquitetura que vêem uma moça no alto de
sua escadaria. Curiosamente, diferentes pessoas a descreveram da mesma
forma. Mas também dizem que, provavelmente, seria alguém que morou na
casa e que não é do mal. Isso deve explicar alguns barulhos noturnos
ouvidos por pessoas que freqüentaram o hotel.
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