No século passado, o nosso povo foi marcado pela escravidão:
fazia-se tráfico de gente como de uma coisa qualquer. Vendiam negros por seus
perfeitos dentes e físico, como fazem com os cavalos... Tanto sofrimento,
Josefa, negra escrava de uma das fazendas da vizinha Paraty não pôde suportar!
Corajosa, fugiu com outros negros, que vieram refugiar-se em Ubatuba no bairro
do Camburi, três morros depois da Cachoeira da Escada, a 550 m de altitude.
Morou até o fim de sua vida em uma toca. Josefa, negra bonita, segundo contam
seus descendentes, era a única do grupo que descia de tempos em tempos à praia
para pegar mariscos, peixes e outros alimentos, destacando-se assim como líder
do grupo e dando origem aos primeiros descendentes quilombolas da região norte
do município.
Parte da história que contribuiu para a formação dos 500 anos de Brasil,
convidei Izaias Soares, nascido e criado no Camburi, um dos poucos que conhecem
a trilha, e Cristo, monitor do Parque Estadual da Serra do Mar, que
acompanharam-me até a “Toca da Josefa”. Que aventura!
Embrenhando-se na Mata Atlântica, passo a passo ela nos devora. Logo,
percebemos que tem sempre Alguém maior e aprendemos a respeitá-la, pois
realmente estávamos no pulmão do mundo. A intimidade com este que parece ser
um outro mundo vem das informações dos experientes guias. Árvores gigantes
como o Cobi, que precisa de cinco homens para abraçá-lo, ou a curiosa árvore
que de uma mesma raiz nascem muitas outras formando uma grande família unida, e
até mesmo o gigante pau Brasil compõem o emaranhado de vidas que misturam-se
com as cores de cogumelos laranja com vermelho, a flor de sororoca da família
do caeté, que nos acompanhou durante toda o percurso, sem contar a presença de
bromélias tigres, corujas, gavião, roxas... E as orquídeas, então? É
realmente estonteante!
No caminho, ouve-se o som da Cachoeira do Ingá que circula ali pela redondeza;
mas, é no final do primeiro morro que podemos nos banhar na Cachoeira da
Escada, que nasce embaixo do Morro do Papagaio, ou matar a sede na próxima
cachoeira, que é do Garacipó (nome de uma árvore).
No percurso, visitamos também a abrigada e ornamentada por plantas “Toca do
Souza”, também escravo fugitivo.
Rastros, pegadas. Podemos constatar a passagem de uma pequena onça que teria
bebido água há uns dois dias, a presença constante de pacas e tatus, mas
sempre prestávamos atenção no canto dos passarinhos: são eles que anunciam o
perigo. Tucanos, cavalo frouxo, pixoxó, araponga, etc... cantos inesquecíveis
que nos protegiam.
Quatro horas de caminhada; enfim, a esperada “Toca da Josefa” formada por
uma rocha de 50m de altura, um calado de 9m e uma inesperada plataforma que
possibilita uma das mais fantásticas vistas panorâmicas do planeta. Ao longe,
podemos observar todo o movimento do Camburi, Praia Brava, Praia da Fazenda e o
imenso oceano azul e suas ilhas. Se o tempo tiver claro, podemos ver Trindade e
o centro de Ubatuba. É uma emoção inigualável que, se você quiser sentir,
é só ligar para o Núcleo Picinguaba, tel: 9714-9062, falar com Cristo ou
deixar recado para Izaias no bar da Cachoeira da Escada. Sem dúvida, vale a
pena conferir!!
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